Você já se perguntou por que fazer o bem? Você acredita que a MODA pode ser ferramenta de transformação para a humanidade?
Eu acredito. Mas há algum tempo atrás eu tinha dúvidas.
Quero compartilhar a resposta de um dos inquietamentos da minha mente: qual o verdadeiro sentido da moda? Sim, me questionei várias vezes sobre o tal julgamento “a moda é fútil”. Faz 16 anos que trabalho na indústria da moda, e eu buscava um sentido maior. Não podia limitar a moda a tendências. A consumismo. Lá no fundo eu cria que ela podia mais. Descobri que a moda não trata somente a linguagem externa, é muito mais profundo, é muito mais pessoal. “Ela” além de ter o poder de marcar a história, é uma arte, você pode criar, traduzir os seus sonhos através dela.
Traduzir sonhos? Como assim, Érika? Então, senta, que lá vem o relato…
Em 2016 realizei serviços voluntários na Ásia e tive o prazer de conhecer no Nepal (país vizinho da China e Índia, onde fica o famoso Monte Everest) uma ONG chamada Meninas dos Olhos de Deus, que resgatam meninas do tráfico humano. (Fiz um post – CLIQUE AQUI – compartilhando a experiência). Juntas, elas sonham ter a própria marca e uma grande loja, e através deste business poder ajudar a resgatar outras meninas vítimas do tráfico humano. Isso é lindo! A moda contribuindo para a construção de sonhos e eu tive o privilégio de sonhar com elas.
O projeto existe há 18 anos e é liderado por um casal brasileiro – Silvio e Rose. É incrível o projeto, fiquei encantada. Mas ao mesmo tempo destruída. O que acontece, essa ONG trabalha para combater o tráfico sexual infantil. Infelizmente essa é uma realidade não só de lá, mas do mundo, inclusive do Brasil. Mas no Nepal a proporção é muito maior. Crianças com 4 anos são levadas para o tráfico sexual. Meninas com 12 anos são obrigadas a ingerir hormônio para o corpo crescer e assim receber mais clientes. Não dá para acreditar. Isso é DESUMANO! Entrei em crise. Veio conflito. Veio questionamento. Sou uma jornalista de moda e agora deparo com uma realidade dessa e o que eu posso fazer? NADA? E como volto pro Brasil e fingir que nunca ouvi uma história dessa? Pensei: “Deus, eu sou uma IDIOTA”.
Naquele momento de dor eu fiz uma oração que achei que nunca faria na minha vida: “Deus, me dê ignorância, não sei lidar com isso”. Por três dias silenciei. E eis que veio uma luz: emprestar todos os dons e talentos que aprendi na vida para as meninas que eram do setor de costura. Nesta ONG eles possuem vários setores, entre eles esse de costura, da escola e da fazenda.
Ministrando Workshop para as Meninas do Nepal.
E a dinâmica da ONG funciona assim: essas meninas são resgatadas dos bordéis da Índia (a maioria das Nepalesas são levadas – “vendidas”- pra lá), repatriadas e ressignificam a vida delas através desse projeto. Entrei em contato com eles, ofereci o que eu tinha disponível no momento, que era o conhecimento que havia adquirido durante a minha vida para repassar a elas. E foi incrível. Passamos três dias juntas, montamos um workshop de moda, falamos de tendências, cartela de cores, desenvolvemos algumas modelagens juntas e uma nova ideia de business foi fomentada.
Crianças que frequentam a escola na ONG Meninas dos Olhos de Deus.
Elas identificaram que estava super em alta as Nepalesas casarem com vestido ocidental, o nosso tradicional vestido branco. Mas em Kathmandu – capital do Nepal, na época havia apenas uma loja de locação de vestidos com apenas 6 unidades. Elas compartilharam a ideia e perguntaram o que eu achava. Imagina, falaram para a pessoa que mais ama dar ideia (hahaha). Fiquei muito empolgada com a possibilidade. Voltei para o Brasil e contactei um cliente meu do setor e perguntei o que eles faziam com os vestidos que já tinham “vencido” – passado de coleção? Eles tinham um apartamento com os vestidos parados, pois todos os anos as noivas querem novidades e os outros antigos vão ficando de lado.
Compartilhei a história da ONG e no mesmo momento Dona Inês – proprietária da empresa – abraçou a causa e doou aproximadamente 400 itens. Vestido de noivas, coroas, véu, ternos, vestidos de madrinhas, enfim, itens suficiente para iniciar uma loja de locação de trajes sociais. Levou mais de 6 meses os trâmites burocráticos para os vestidos chegarem no Nepal, mas chegou.
Neste vídeo em 2017 eu compartilho quando os vestidos chegaram lá. Uma alegria que não cabia em mim.
A loja Beautiful Bride nasceu e já completou 1 ano da inauguração. Hoje elas já oferecem vários serviços, foram capacitadas por um time de voluntários do Canadá, buscaram especializações e além da locação dos vestidos, as clientes podem fazer cabelo, maquiagem, contratar decoração da festa, bolos, doces, enfim, ter acesso ao serviço completo para o casamento. E a ideia é expandir.
Elas contam muito com doações e recursos de fora, já que o país não oferece estrutura e condições tão favoráveis para o desenvolvimento. É um país pobre. Desde então eu mantenho contato frequente com elas para acompanhar como está caminhando o business e como posso continuar contribuindo, afinal, aprendi que a moda pode ser ferramenta de transformação para a humanidade, a gente só precisa ressignificar. E também aprendi que muitas vezes seremos pontes para conectar boas ideias e bons corações. <3
Eis que compartilhei mais uma vez essa história com uma empreendedora, desta vez com Thiana, diretora de marketing da Bio Extratus. Ela ficou impactada e não pensou duas vezes em contribuir para este projeto crescer. A Bio Extratus doou vários produtos de cabelo para o “Beautician Team” – Time de Beleza que trabalha no salão. Lá é difícil encontrar produtos de qualidade com valor acessível e pasmem, água oxigenada por exemplo, raramente tem disponível. Esses produtos servirão para treinamentos de novas técnicas e atendimento a clientes. Eu nem tenho palavras para descrever e agradecer, muito, mas muito feliz em ver mais uma vez corações unidos. Elas inclusive gravaram um vídeo muito fofo para agradecer. Se arrumaram, todas produzidas para mostrar a gratidão. Maravilhosas. Vejam só:
E por que estou compartilhando tudo isso? Não, não é para mostrar o que a ÉRIKA faz, ou o que a BIO EXTRATUS doou. É para mostrar que VOCÊ – TODOS, independente de idade, classe social, cor, raça, profissão, podemos nos doar. E quando falo em doar-se não me limito a doação financeira. Você pode contribuir doando o seu talento, sendo “ponte”, compartilhando esse post, incluir em suas orações, enfim, existem inúmeras maneiras de colocar a “mão na massa”.
O que é preciso: Ser vulnerável. Aprender assumir riscos. Vencer o medo. Amar o próximo. Fazer o bem, não importa a quem.
Se você quer conhecer mais sobre a ONG Meninas dos Olhos de Deus, segue abaixo os contatos:
INSTAGRAM – @beautifulbridenepal
Bjokas da Japa e até a próxima :*
Érika Okazaki é Jornalista especializada em Design de Moda, Consultora de Imagem formada pelo IRCNY – Image Resource Center of New York. Abriu a própria fábrica de confecções aos 17 anos e adora empreender. Desde 2009 atua na área de comunicação com o Programa Na Moda, que já passou pela TV Bandeirantes PR, Record PR e Record News Internacional – Europa e África. Érika também é professora da Pós Graduação, palestrante e ministra Workshops de Moda e Imagem.
Outro dia me peguei pensando, após uma aula de consultoria de moda, o tanto que nós mulheres somos cobradas socialmente com relação ao que vestimos. Se estamos muito arrumadas, dizem que estamos tentando demais. Se estamos mais básicas, nos chamam de relaxadas. Se queremos usar peças da moda, somos escravas da mídia. Se queremos ficar de pijama o dia todo em casa, somos desleixadas.
Mesmo que inconscientemente, pensamos no que vamos usar em uma festa, no trabalho ou simplesmente para ir à padaria. Afinal de contas, o ato de se vestir é diário e obrigatório, tornando assim algo importante no nosso dia a dia. Mesmo a pessoa menos ligada às tendências precisa se vestir de acordo para determinada ocasião. E foi aí que me peguei pensando: até quando o que eu visto diz respeito a mim mesma ou diz respeito apenas ao que esperam de mim socialmente?
Quantas vezes você já se pegou vestindo uma peça apenas pensando no que o outro ia pensar de você? Quantas vezes você montou um look genuíno, que exprime sua personalidade de verdade? Mesmo que as regras de etiqueta existam, mesmo que alguns costumes devam ser mantidos em situações formais, por que deixamos nossa opinião de lado e damos voz aos outros?
Me questionei e cheguei à conclusão de que, muitas vezes, damos voz a essas ideias por medo de rejeição social, medo de não se sentir aceito e não fazer parte do grupo. Daí, quando paramos pra observar, vemos várias pessoas iguais, padronizadas, sem personalidade. Por que não exprimir sua personalidade em suas produções do dia a dia?
Não, não estou dizendo pra ir de chinelo para o trabalho ou de jeans para um casamento. Estou dizendo apenas para que a gente pare de se preocupar tanto com o olhar que outras pessoas terão para nossas produções. Tomemos para nós o direito de poder vestir o que a gente quiser em situações que nos permitam isso. Que a gente se permita usar e ousar peças que nos deixem confortáveis e estilosas, do jeitinho que sempre quisemos, sem medo do que o outro vai pensar a respeito. Que a gente seja realmente livre para comprar as peças não apenas por tendência ou para nos encaixarmos no padrão e sim por gostarmos dela. E que tomemos posse do nosso direito de usar a moda em nosso favor, sem nos tornarmos escravas dela.
Sempre muito comunicativa, Ana Luiza nunca teve vergonha de mostrar quem é e o que pensa. Adora escrever textos sobre moda inclusiva e empoderamento feminino, hoje produz looks do dia plus size, resenhas com opiniões reais sobre produtos acessíveis e conteúdo sobre autoestima e feminismo. Ana sabe que “estar na moda” é captar a essência do que é tendência e transferir para seu estilo, deixando sua marca em cada peça e independente do tipo de corpo. Hoje trabalha com consultoria de moda e imagem, marketing digital e com produção de conteúdo em seu blog Cinderela de Mentira.