Por muito tempo eu descobri que, mesmo sendo uma pessoa com muito mais amigas do que amigos, a competição feminina era minha companheira inseparável. Aquela que estava ali, do meu lado, sussurrando sempre no meu ouvido como outras mulheres eram melhores que eu.
Na começo da adolescência eu me intimidava com a menina que tinha o cabelo mais bonito, que era mais magra, que era mais popular. “Como alguém vai olhar para mim se eu não sou ela?” “Como deve ser a vida dela?” Fui descobrir muito tempo depois que essa mesma menina popular que me intimidava também se sentia insegura ao olhar pra mim por outros motivos. Motivos que eu não via como feitos ou qualidades na época.
Do meio para o final adolescência, quando os namorados, os rolos e as paqueras (ainda existe esse nome? É crush que fala agora, né?) começaram a surgir, a competição feminina me apresentou para a sua prima-irmã, a rivalidade feminina, que alimentou todo tipo de ciúme e insegurança. A menina que estava falando com o menino que eu estava de olho com certeza era a maior mau caráter. E a que ficou com o namorado da minha melhor amiga – mesmo não sabendo que ele estava namorando? Vagabunda, claro, tem que esfregar a cara dela no chão (olha o nível de maturidade desse conselho).
Foi preciso eu cair na cilada de um dos meninos mais bonitos da série, junto a mais 3 outras meninas, para entender as variadas nuances dessa competição e o tamanho da roubada que seria se eu entrasse nessa. Foi preciso eu arrumar um namorado com fama de pegador e que nunca tinha namorado sério e receber mensagem de ex-ficante (linda, por sinal) me parabenizando pelo namoro, mas contando como foi incrível transar com ele, para eu entender que nem sempre existe um lado mais frágil nessa balança. Todas as mulheres caem nas garras da competição.
Aí fui para a faculdade, onde a pressão de mostrar-me talentosa, criativa e dona de uma futura carreira brilhante pegou feio, me deixou completamente insegura e justamente aí eu cedi ao papo da competição. Passei 4 anos da minha vida achando meus trabalhos uma droga se comparado com o de outras pessoas, ou melhor, mulheres. Passei esses anos todos querendo ser tão estilosa como a menina que fazia aula de ilustração comigo, ou ter um armário tão legal quanto da garota que fazia aula de história da moda. Poxa, por que eu não era talentosa como aquela menina que fez a melhor apresentação da aula de Gráfica? Demorou anos para eu entender que gastei uma energia preciosa da minha faculdade me comparando e competindo com outras mulheres, e era uma competição soltária, que vinha apenas do meu lado. Me prometi que nunca mais faria isso.
Mas fiz. Mundo de blog pode ser um caminho traiçoeiro. Ainda mais mundo de blogs de moda. Era sempre uma história de “por que ela conseguiu pegar esse trabalho e eu não?” “Por que ela está fazendo sucesso e eu não, se fazemos o mesmo conteúdo?” “Será que é porque ela é magra e eu não?” “Será que é porque aquela blogueira ali é mais bonita?” Estar em um mercado competitivo com tantas mulheres abriu espaço para a competição feminina aparecer novamente na minha vida. Mas meu mundo se abriu quando eu entendi que tem espaço para todas, que o padrão até existe e é cruel, mas ele não é importante se seu conteúdo conectar-se com suas leitoras.
Era um foco no lugar errado novamente e, depois que criamos o #PapoSobreAutoestima, comecei a ver tantas outras mulheres compartilhando suas histórias e percebi que não dá mais para focar no lugar errado.
Desde então, tem sido maravilhoso enxergá-las de sua forma mais genuína. Não importa se são mais bonitas, mais talentosas, mais inteligentes, mais articuladas, mais famosas. Todas nós temos nossas particularidades, nossas inseguranças, nossas histórias, nossos medos e nossas superações. E, no fim das contas, tantas coisas são parecidas, que fico me perguntando por que e pra que focamos nas nossas diferenças, justamente naquilo que faz cada uma de nós ser especial e única? Chega.
A gente não precisa disso, eu não preciso disso e certamente você também não.
Carioca morando em Nova York, mãe do Arthur e blogueira do Futilidades. Fala principalmente de moda, beleza e autoestima, sempre procurando um equilíbrio saudável entre a vida de mãe e de mulher.
Carioca morando em Nova York, mãe do Arthur e blogueira do Futilidades. Fala principalmente de moda, beleza e autoestima, sempre procurando um equilíbrio saudável entre a vida de mãe e de mulher.